terça-feira, 29 de novembro de 2011

É um erro avaliar gestão de Dilma por queda de seus ministros, diz José Dirceu

  • Dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil José Dirceu defende governo Dilma em entrevista ao jornal El País Dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil José Dirceu defende governo Dilma em entrevista ao jornal "El País"
Para o histórico dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil José Dirceu (nascido em Passa Quatro, Minas Gerais, em 1946), os escândalos de corrupção que estão afetando vários ministros da presidente Dilma Rousseff não só não vão prejudicar a imagem do Brasil, como reforçarão a mandatária. Ele mesmo teve de se demitir da chefia da Casa Civil do presidente Lula em 2005, em outra tempestade de acusações semelhantes, e isso não impediu a reeleição de Lula em 2006 nem que este se retirasse sendo o presidente mais popular da história do Brasil.
El País: O primeiro ano da administração Rousseff foi marcado pela queda de ministros.
José Dirceu: A queda de ministros não significa que haja corrupção da presidente ou do PT. Nem sequer que os ministros que saíram sejam corruptos, mas sim que há denúncias de irregularidades nos ministérios. Antes de Lula, não havia controle de contas e a Polícia Federal jamais combateu a corrupção. E agora a oposição diz que Lula montou um sistema de corrupção. A justiça tem que provar as acusações. O que acontece, hoje, no Brasil é que a imprensa faz a denúncia, a investigação, julga e condena. Muitos dos ministros saíram porque suas famílias não suportaram essa pressão.
El País: Mas seis ministros se demitiram em apenas cinco meses.
Dirceu: Temos uma maioria sólida no Congresso e no Senado. E a presidente tem uma alta porcentagem de aprovação. E Lula nem lhe conto. Saiu com 85% de aprovação. Hoje estaria por volta de 95%. É um mito. Qual é o problema no Brasil, então? É o financiamento das eleições. Cada candidatura é uma campanha diferente porque a eleição é uninominal. Cada candidato compete também com os de seu partido. E o financiamento é privado e vem das empresas. É preciso reformar o sistema.
El País: E a Dilma poderá fazê-lo?
Dirceu: Não. Dilma não pode. O PT quer, e já fez campanha por isso. Estamos dispostos a aceitar uma dupla via de financiamento das campanhas, pública e privada. Para os brasileiros, o PT é o partido que levantou a bandeira contra a corrupção, e isso já é uma vitória. Isso não significa que não exista corrupção e não seja preciso combatê-la, por exemplo, no caso das nomeações diretas para cargos públicos. O PT votou contra quando foi redigida a Constituição. As acusações contra o PT são uma jogada política. Dilma foi obrigada, contra sua vontade, a prescindir de seus ministros.
El País: A presidente pode ser derrubada por esses escândalos?
Dirceu: Não. Convido o seu jornal a que faça uma pesquisa no Brasil. Os brasileiros aprovam a gestão da presidente. Primeiro porque o Brasil superou de longe a crise. Só este ano criou 2,5 milhões de postos de trabalho, com um crescimento de 3%. A presidente cuidou da educação, diminuiu os impostos para exportações. Criou a segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida, um milhão de residências populares são construídas por ano... Creio que é um erro avaliar o governo de Dilma pela queda de ministros. O povo não faz isso. Há muita luta política. Por que não se faz o mesmo onde governa a oposição, por exemplo, em São Paulo, onde há grandes escândalos de corrupção?
El País: O Brasil passou de promessa a potência, mas uma potência já não é um país tão simpático. O Brasil sabe lidar com isso?
Dirceu: Sim. A criação da Unasul foi o caminho político que Lula escolheu para dialogar com os demais países latino-americanos. Há dois movimentos: a liderança do Brasil para unir a América do Sul e que as vozes do Brasil e da América Latina sejam escutadas no mundo. Um deles é o Mercosul como projeto econômico e o outro a Unasul como projeto político. Mas não se pode liderar a América do Sul sem fazer concessões.
El País: Quais, por exemplo?
Dirceu: Quando Lula teve de negociar, em 2006, a nacionalização do gás boliviano, é um exemplo. Ou quando Lula faz concessões para que a Argentina e o Brasil tenham uma política industrial comum. Há sinais claros de que o Brasil está à altura do desafio.
El País: Lula não é mais o presidente.
Dirceu: Bem, é Dilma. Mas ela segue o projeto político do PT, que é um projeto de Lula. Definitivamente, Lula é nosso líder, não é? A presidente é Dilma, mas Lula é nosso líder. Temos um projeto de desenvolvimento em que o país acredita. O povo ocupou seu papel no Brasil e o Brasil ocupou seu lugar no mundo.
El País: Mesmo assim, há alguns anos se começa a escutar uma expressão: imperialismo brasileiro.
Dirceu: Não. Isso não existe. Há muitos investimentos sul-americanos no Brasil. O caminho é esse. É preciso olhar os dados e não se deixar levar pelos slogans.

Veja quais ministros de Dilma caíram e quem já ocupava pastas no governo Lula



Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
 

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