segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Morre o escritor mineiro Bartolomeu de Campos Queirós

FOTO: CARLOS AVELIN/DIVULGAÇÃO
Bartolomeu de Campos Queirós tinha mais de quatro décadas de carreira nas letras
A literatura brasileira perdeu na madrugada desta segunda (16) o escritor mineiro Bartolomeu de Campos Queirós. Autor de mais de 40 livros, ele tinha 66 anos e estava internado no Hospital Felício Rocho, região centro-sul da capital. Ele fazia hemodiálise porque tinha insuficiência renal.
Queirós nasceu na cidade de Papagaios, região central de Minas, e só mais tarde se instalou em Belo Horizonte. O escritor assinou mais de 40 livros de histórias infantis e juvenis (algumas traduzidas para o inglês, o espanhol e o dinamarquês). Sua primeira publicação foi “O Peixe e o Pássaro”, em 1974. Em maio de 2011, lançou Vermelho Amargo, obra em que retorna a própria infância. O mineiro ainda ganhou o Prêmio Jabuti em 2008 e tem vários textos adaptados para o teatro.
Desde a década de 70, também teve importante atuação como educador. Contribuiu com vários projetos da Secretaria de Educação do estado e participou do Projeto ProLer, da Biblioteca Nacional
A previsão é que corpo seja velado na Academia Mineira de Letras até as 16 horas e depois siga para o sepultamento. Bartolomeu de Campos Queirós faria 68 anos em agosto. De acordo com a editora Cosac Naify, o autor deixa um trabalho inédito ainda sem título e sem data prevista para publicação.
Biografia
Leia a apresentação que o autor faz de si mesmo em relato de 1983:
...das saudades que não tenho
Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento...
Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição.
(...) Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono. Mesmo nascendo com 57 anos estava aos 60 obrigado ainda a ser criança. E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos. Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.
(...) Tive uma educação primorosa. Minha primeira cartilha foi o olhar do meu pai, que me autorizava a comer ou não mais um doce nas festas de aniversário. Comer com a boca fechada, é claro, para ficar mais bonito e meu pai receber elogios pelo filho contido que ele tinha. E cada dia eu era visto como a mais exemplar das crianças, naquela cidade onde a liberdade nunca tinha aberto as asas sobre nós.
Mas a originalidade de minha mãe ninguém poderá desconhecer. Ela era capaz de dizer coisas que nenhuma mãe do mundo dizia, como por exemplo: – Você, quando crescer vai ter um filho igual a você. Deus há de me atender, para você passar pelo que eu estou passando. – Mãe é uma só. (...)

(Bartolomeu Campos Queiroz, em Abramovich, Fanny (org.) – “O mito da infância feliz”. Summus, São Paulo, 1983)

Fonte

Um comentário:

  1. Carmen Lins de Carvalho16 de janeiro de 2012 às 14:52

    Estamos tristes; a morte prematura nos enche de tisteza. Conheci este escrtor.

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