domingo, 29 de janeiro de 2012

Direitos humanos em Cuba? ‘Não é emergencial’


De passagem por Davos, na Suíça, o chanceler Antonio Patriota permitiu-se trocar um dedo de prosa com os repórteres sobre a viagem que Dilma Rousseff fará a Cuba.
Difícil saber o que diabos Dilma vai fazer em Havana. Patriota pelo menos esclareceu o que ela não fará. A situação dos direitos humanos não consta da pauta. “Não é emergencial”, disse o chanceler.
Na semana passada, morreu num cárcere de Cuba o preso político Wilman Villar Mendoza. Foi à cova aos 31 anos, depois de sustentar uma greve de fome por 56 dias.
Se pudesse dirigir meia dúzia de palavras ao chanceler Patriota, o estômago de Wilman Mendoza talvez dissesse: “Quisera não tivesse sido obrigado a dançar no ritmo da emergência, caro ministro.”
“Meu mundo cabia no intervalo entre uma refeição e outra. Meu relógio, caprichoso, só tinha tempo para certas horas: a hora do café, a hora do almoço, a hora do jantar…”
“Decidido a não ruminar comida, levei à loucura o meu relógio. Ele passou a anunciar a chegada de cada novo segundo aos gritos. 
Permita-me esclarecer, senhor ministro: nunca tive grandes ambições.”
“Não queria viajar para Miami. Só queria a solidariedade do respeito às minhas opiniões. Queria a compaixão da liberdade. Numa palavra: queria democracia, ministro.”
“Padeci. Arderam-me as paredes, bombardeadas por jatos de suco gástrico. Mas já não sofro, senhor Patriota. Encontrei a paz na morte. Troquei o inferno dos irmãos Castro pelo paraíso.”
“Meu céu agora é livre. Sei que a posteridade não se atreverá a acomodar nele um novo Fidel, mais um Raúl, outra Cuba. Não, não. Aqui, minha fome, como a sua, não é emergencial. Resolvo-a abrindo uma geladeira como aquela que o senhor tem em casa. Recomende-me à presidenta Dilma. Saudações.”

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