sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DA MORTE DO CRAQUE ÀS MORTES DO CRACK: OS RISCOS DA POLÍTICA DO SENSO COMUM

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Manchete e colunas da Tribuna de Minas (TM) de hoje (08/12/2011) repercutem a questão das conseqüências individuais (saúde) e sociais (segurança) do uso de substâncias psicoativas. Mais uma vez, estamos diante das falácias políticas da “liberação de recursos” para ações programáticas que — ainda quando plena e efetivamente realizadas, e sem os desvios financeiros aos quais parecemos habituados — não seriam capazes de conduzir aos resultados propagandeados aos que esperam uma solução para seus sofrimentos pessoais e/ou familiares.
Recentemente, o Estado brasileiro — seja em nível federal, estadual ou municipal — tem primado pelo recurso a medidas simultaneamente paternalistas e restritivas da liberdade individual que, frequentemente, são incapazes de promover tais resultados sugeridos à população, ainda que contribuam para o fortalecimento de interesses políticos e econômicos de seus parceiros mais afinados.
Alexandre Garcia, em seu comentário no telejornal da manhã, advertiu que o uso do crack tem assumido, em nosso país, um espaço que já foi da “cachaça”, com suas promessas de um “pseudo-bem-estar” imediato que, cedo ou tarde, raramente deixa de cobrar sua conta. “Educar é mais importante”, afirma, também hoje na TM, nosso colega Sagrado Lamir David, ao abordar a questão da segurança social, enquanto as políticas de estado propõem, para os usuários do crack, a “internação involuntária”, paga pelo contribuinte para os novos empresários da saúde mental. É a nova face da indústria da loucura, a história que “se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”...
Educar é importante, mas não é tudo, como nos mostra o exemplo do “doutor Sócrates”: o uso de substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) faz parte da história da humanidade e não é razoável supor que seu uso irá ser definitivamente “erradicado” e que poderemos deixar de nos ocupar e suas conseqüências negativas (individual e socialmente): será que conseguiremos lidar com esta questão de uma forma mais equilibrada e crítica, sem o recurso a demonizações ou ações messiânicas?
A rigor, cada um de nós deveria se perguntar se estamos dispostos a, efetivamente, modificar nossos padrões de comportamento — tanto individuais como coletivos — no sentido de atitudes menos hedonistas, menos individualistas e mais responsáveis, tanto individual quanto coletivamente. Se assim o for, podemos esperar mudanças sociais mais amplas, em que o processo de educação de cada pessoa necessariamente deverá resgatar a relevância da internalização de normas de convivência humana em que o respeito ao outro seja um valor inquestionável.
Prof. Dr. Mário Sérgio Ribeiro (Laboratório de Pesquisas em Personalidade, Álcool e Drogas da UFJF)

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